Joguei todos os livros da prateleira no chão e chutei-os com tanta força que quase quebrei alguns dedos . Me ajoelhei e chorei desesperadamente à procura do meu livro de feitiços que escrevi quando tinha 22 anos . Puxei meus longos cabelos agora claros devido ao tempo e corri até o banheiro para me olhar no espelho . Sempre me achei mais bonita depois de longas horas chorando . É como se o choro realçasse quem eu realmente sou ; como se minha alma fosse trazida à tona das mais profundas angustias do ser humano .
Voltei à sala e com calma e arrumei livro por livro de volta à prateleira até encontrar o que eu queria . Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava manter a calma , mas minhas lágrimas eram tão quentes que poderiam queimar o meu rosto .
Essa sala é tão fantasmagoricamente triste. Passei bons momentos aqui mas ela só me traz frustrações . Me sinto agoniada porque penso que aqueles dias de chocolate-quente e literatura inglesa se perderam em algum lugar desta sala quadrada e irônica .
É como se ela fosse uma mulher dos seus 50 anos que ainda se acha no direito de te olhar da cabeça aos pés e tirar um sarrinho invejoso por você estar usando tênis num evento social enquanto ela desfila com seu Marc Jacobs . Ela sabe que isso não a torna jovem como você , mas a transforma em uma mulher muito mais elegante .
Encontro o livro e procuro o feitiço da felicidade que me lembro ter escrito em um momento de desespero . Não me lembro de tê-lo posto em prática na época , mas estou determinada a pô-lo desta vez .
É claro que eu não achei , porque ele nunca existiu .
Começo a chorar novamente e me lembro que esqueci a água na chaleira . Saio correndo , escorrego no tapete , só me lembro de um barulho forte de algo se quebrando , e continuo aqui onde eu sempre estive .
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