sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Nossos cabelos


    A obscuridade dos eventos é o que prende a sua atenção enquanto alguém pronuncia palavras adormecidas. Tudo isso te pertence, você só não sabe.
    Ouvimos algo ao longe, prestamos atenção, e ouvimos a mesma frase, não poderá ser coincidência. Duas almas desprovidas de obrigações e amores; solitários para nunca se sentirem sozinhos.
    Espera-se o melhor, e o ruim se torna o melhor. O que não aconteceu não poderia ser bom, caso contrário teria acontecido.
    Guardo todos os recibos, e não me preocupo com comentários de alguém que não entende o que se passa comigo, os meus motivos, minhas razões e sonhos. Me julgam, e eu julgo vocês, mas da minha parte não pode ser levado a sério. Sei que existe uma razão para cada um ser como é, não cabe a mim, simples mortal, querer discutir tais razões.
    Como é bom sentir esse frio, e esse cheiro familiar, mas que sentimos pela primeira vez. É como se eu já tivesse vindo aqui antes, como se tivesse deixado um suspiro em algum canto.
    A saudade exalada nessa cozinha é doce, me sinto bem por sentir saudades, me sinto bem porque sei que amo alguma coisa. O ciúme é tão passageiro e tão banal, mas impossível de passar despercebido.
    Alegramos-nos em passar os dias com nossos defeitos, nossos cabelos, nossos sonhos...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Massa uniforme


É só uma borboleta que passa. Na verdade não é só uma borboleta. Ou talvez seja. Mas nada é somente o que parece. Ou talvez seja. 
Talvez eu goste de gastar meu tempo pensando que nada acontece em vão. E talvez as coisas simplesmente aconteçam por motivo algum. Talvez tudo seja uma piada de mau gosto. Não existem coincidências e vivemos aqui feito um bando de palhaços enchendo nossas barrigas com comida ruim, nossos cérebros com inutilidades e rindo de piadas racistas.
Talvez sejamos mesmo apenas gado, uma massa oleosa e uniforme sem individualidade. Mas eu prefiro pensar que não é assim que funciona.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Espero


Esse vento nem sempre é assim, calmo. Ondas que se elevam e me cobrem, e me acorrentam durante dias debaixo do oceano mais profundo e escuro. 
Tudo é tranqüilidade, até que uma preocupação a quebra. Preocupação com a incerteza. E enquanto isso sua pele se abre e fecha enquanto mentalmente ele ri da minha incredulidade, da minha ignorância e do meu tempo que não existe. 
Tento adivinhar o que ele pensa de mim. De nós. E dia após dia eu troco os canais, mudo a decoração e espero, assim como venho esperando.