E na incerteza do que me acontece não tenho certeza nem
das sombras que são deixadas por amores passageiros ou por amigos que morreram
na memória.
Quando a circulação não circula como deveria, e o vento
assovia na janela como se tentasse te dizer algo fantasmagoricamente
horripilante, ou quando o copo simplesmente quebra na sua mão, ou quando você
tem vontade de virar a mesa do jantar enquanto outras pessoas comem; tudo isso
remete a um estado de espírito realmente depressivo que é preenchido com
abraços, beijos, conversas e muita comida italiana preparada por alguém que
chora muito ao cortar cebolas.
Abro a porta do apartamento, acendo um cigarro imaginário
e fumo com um uísque imaginário, enquanto discuto problemas de Estado, política
e filosofo sobre vida em outros planetas com alguém que não existe fisicamente,
e esse alguém realmente me preenche porque ele me entende sem fingir que
entende, e compartilha dos mesmos ideais, e ele conversa comigo da forma mais sincera
possível, não com o interesse de entrar no meio das minhas pernas depois.
Você deixa tudo aí bagunçado, não organiza nada, deixa o
tempo passando como a água daquele riacho ali da esquina, ninguém mais nota
aquele riacho, você sabia? Nem lixo as pessoas jogam nele. Com certeza ele
sente falta de alguém gritando ali por perto, poluindo suas águas ou só lavando
os pés nelas.