quarta-feira, 17 de abril de 2013

Pernas



    E na incerteza do que me acontece não tenho certeza nem das sombras que são deixadas por amores passageiros ou por amigos que morreram na memória.
    Quando a circulação não circula como deveria, e o vento assovia na janela como se tentasse te dizer algo fantasmagoricamente horripilante, ou quando o copo simplesmente quebra na sua mão, ou quando você tem vontade de virar a mesa do jantar enquanto outras pessoas comem; tudo isso remete a um estado de espírito realmente depressivo que é preenchido com abraços, beijos, conversas e muita comida italiana preparada por alguém que chora muito ao cortar cebolas.
    Abro a porta do apartamento, acendo um cigarro imaginário e fumo com um uísque imaginário, enquanto discuto problemas de Estado, política e filosofo sobre vida em outros planetas com alguém que não existe fisicamente, e esse alguém realmente me preenche porque ele me entende sem fingir que entende, e compartilha dos mesmos ideais, e ele conversa comigo da forma mais sincera possível, não com o interesse de entrar no meio das minhas pernas depois.
    Você deixa tudo aí bagunçado, não organiza nada, deixa o tempo passando como a água daquele riacho ali da esquina, ninguém mais nota aquele riacho, você sabia? Nem lixo as pessoas jogam nele. Com certeza ele sente falta de alguém gritando ali por perto, poluindo suas águas ou só lavando os pés nelas.

domingo, 7 de abril de 2013

Procura

    De volta a estaca zero. Mas se está de volta, talvez nunca tenha havido uma total saída.
    Os compromissos inadiáveis que nos fazem desligar o celular e telefones da casa a fim de evitar notícias ruins.
    Procura se algo que não se sabe ao certo o que, procura se histórias que não foram escritas, procura se pessoas inalcançáveis e existentes somente em filmes hollywoodianos com aparência e almas impecáveis e totalmente compatíveis.
    Vasculhamos por conversas filosóficas, sinceras e recíprocas envolvendo planetas distantes, rock n' roll e a inexistência do amor romântico.
    Algo que assombre os dias mais quentes e acalme as mais escuras noites.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Gaguejar



    E é assim que caminham os dias; com raiva reprimida e muitas idéias que dificilmente se concretizam, e quando se concretizam, percebemos que queremos outra coisa.
    É muito fácil viver sem nenhuma pressão social, problemas financeiros e relacionamentos amorosos que não trazem nada além de preocupação e uma aparente inibição do seu verdadeiro eu perante as necessidades do companheiro em questão. É bom só pensar em si, não ter que dar satisfações, transar com quem quiser, fazer uma viagem de intermináveis noites para qualquer lugar do mundo sem data para voltar ou poder expor sua opinião sem ter olhos repressores em você.
    O conforto que temos talvez seja o conforto que merecemos por alguma razão desconhecida. A paz de espírito que invade a casa como vinda de uma xícara de chá, não é a mesma que nos acompanha em viagens ao futuro ou frases que não foram ditas por medo de gaguejar. Dizem que tudo é uma questão de aparência, mas aparência é só aparência, de que adianta te acharem feliz se você chora a noite feito um bebê?
    Veja quantas oportunidades estão sendo aproveitadas por outros que não passam nem metade de suas vidas preocupados com o que vão fazer no próximo minuto.