quarta-feira, 12 de junho de 2013

Banheira

    Creio que o motivo da morte dela tenha sido algo tão profundo e negro que nem os filósofos possam explicar.
     Ele passou seus dias remoendo o ódio de um amor não correspondido, e impôs a si mesmo regras as quais não pode seguir. O fantasma ainda quebra janelas do velho quarto empoeirado por uma juventude breve e feliz.
     Não resta muita coisa nessa casa, rezo todas as noites para que ela se queime sozinha e transforme em cinzas toda a solidão vivenciada diariamente por eles.
     Nada pode nos salvar a esse ponto, todas as cartas estão na mesa e eu não aguento mais o peso do meu próprio corpo, tudo parece velho e cansado, eu me sinto sonolento mesmo depois de dormir 16 horas seguidas. Me perdoe, as suas histórias são muito interessantes mas minha mente inquieta não me deixa prestar atenção em mais nada, a não ser nessa angústia que me aperta o coração constantemente.
     Eu gostaria de ter te convidado para sair daquela festa e irmos para o bosque conversar sobre a vida noturna dos insetos, mas sua beleza exterior me ofuscou qualquer reação.
     E agora você não é nada mais do que um rosto que me atormenta os dias e as noites e todos pensam que enlouqueci. Acredito eu que enlouqueci mesmo. As coisas não são como antes, não me empolgo com boas notícias e fico horas me olhando no espelho enquanto a agua esfria na banheira.
     É isso por hoje, eu espero. Talvez toda a eternidade eu espero pelo dia em que o céu se abrirá e uma chuva lavará nossas almas assim como eu lavo seu travesseiro toda semana.