quarta-feira, 20 de março de 2013

Cachinhos dourados



    Milagrosamente caindo de árvores feito folhas mortas de alguns anos atrás que não parecem tão longe, são os fantasmas que retornam uma vez ou outra, nos lembrando da superficialidade que lido com pequenos problemas cotidianos. Ninguém quer ler um romance barato onde a mocinha tem cachos dourados e o herói devora uma perna de carneiro como se não houvesse amanhã. Não há relógio que aguente esses preciosos segundos de algum lugar que aparece somente em sonhos, e nenhum coração segura tão bem uma conversa de poucos minutos com alguém que não se sabe se existe em um universo paralelo parecido com esse.
    Não existe muito lixo por aqui, fora aquele que já faz parte do cenário por isso deixou de ser lixo, e agora é só um pó dourado embaixo do tapete.
    Ele ainda passa despercebido, creio que passará por um bom tempo, para não dizer para sempre. As portas da percepção estão totalmente fechadas, mas as janelas mantêm se abertas para uma eventual espiadela. Não é o clichê do coração fechado, muito menos do partido, porque nada se parte quando se pode colar de volta, é só uma sensação serena de liberdade misturada com alguns litros de chá de gengibre junto à lareira.