quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pés

Tempo que fica , tempo que aflora .

Em meio à devaneios desnecessários , me apego à citações inexistentes de autores não nascidos em cidades ainda não inventadas . E me apodero de situações que não são minhas . Faço minhas as suas angustias e vícios frustrados .

Caminho com a multidão me isolando silenciosamente e não tomando os remédios . Te observo de longe , te amaldiçôo .

É um vórtice se abrindo embaixo da cama velha e barulhenta que te suga aos poucos , noite após noite , levando consigo sonhos , planos e familiares .

Migalhas espalhadas pelo chão do banheiro , e isso é tudo o que você tem . Esmola . Restos . Pedaços .

Pedaços do que um dia foi um domingo feliz e boêmio . Pedaços do seu rosto que fora envelhecendo e emagrecendo com o tempo . Restos de uma alma atormentada e psicótica .

Vejo tudo o que você faz . Te vejo sugerindo vidas felizes para estranhos , vidas essas que você sempre quis viver mas nunca teve coragem .

E me perco por entre cheiros cremosos de grifes famosas , maciez excessiva dos cabelos e uma saliva tão ácida que faz qualquer chiclete sem açúcar se transformar em uma pasta de dentes .

É o tempo frio que congela os pés .

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