A casa é tão fria . O piso é frio e azul . Tudo é sujo por aqui . Você nunca lava a louça . Meus cabelos estão sempre oleosos e eu não sinto vontade de me levantar da cama pela manhã . Cama sem cama , o que chamo de cama é apenas um colchão velho colocado no chão , colchão esse onde senti dores terríveis e ardências eternas em minhas entranhas enquanto me levantava de duas em duas horas para vomitar no banheiro .
Eu odeio a poltrona onde você se senta todas as manhãs para assistir ao jornal . Tenho nojo do shorts laranja que você sempre usa . Repulsa só de pensar em tocar na toalha na qual você se enxuga após tomar banho nesse banheiro sem Box ; nesse banheiro onde tantas vezes lavei o sangue sujo que escorria por entre minhas pernas .
E você é só sorrisos para os vizinhos e feirantes , enquanto eu me lavo tanto que minhas cutículas estão em carne viva ; enquanto eu simulo um suicídio todos os dias ; enquanto eu me perco entre sentimentos de culpa e desejo . Não sei ao certo se gosto disso . Não posso gostar , isso é o que eu sei .
E você me leva até a escola e me dá um beijo no rosto de despedida e eu sinto o cheiro da sua pele e sinto sua barba em meu rosto e me lembro de ontem à noite . Me arrasto feito um fantasma acorrentado e desvio o caminho da sala de aula para o do banheiro e acendo um cigarro velho enquanto choro por ter nascido num lugar tão podre e diferente dos desenhos da Disney .
No fundo do meu aparelho reprodutor eu te amo . Você me ama tão intensamente que gostaria de plantar em mim essa semente horrenda e mal-cheirosa que vem do seu interior . Você sempre vai se lembrar de mim .
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