domingo, 5 de dezembro de 2010

Manolo

Talvez seja esse isolamento estratégico que me envolvi no decorrer dos anos e dos tombos , que me impede de experimentar a vida simplesmente como ela é ; sem analisar cada mínimo detalhe , sem pensar se eu estou parecendo nervosa perto dele , ou me divertir naturalmente , como a gente sabe que deve ser .
É assim que deve ser . Todo mundo na montanha-russa se divertindo e eu pensando que poderia estar deitada debaixo de uma árvore junto com a minha mãe , conversando sobre como o dia de ontem foi ensolarado . Chame do que quiser . Crise existencial ou o caralho a quatro , mas me sinto vazia na maior parte do tempo , mesmo estando rindo por aí e desfilando como se eu vivesse numa merda de um concurso de beleza . A gente se arruma pra quê ? Pra quem ? Por quê ? A gente ri dos problemas alheios mas não pára pra pensar que tem um cogumelo gigantesco brotando no meio do nosso quarto e a gente escolhe ignorá-lo porque essas coisas não acontecem com a gente .
Me sinto uma estranha na maior parte do tempo , eu não digo isso porque acho cool , não , eu acho péssimo e ninguém deveria se orgulhar disso . Como o dia em que você disse o que queria , ouviu o queria , mas se levantou da mesa e foi embora .
Vivo minha vida entre trechos de livros do Kerouac , que decoro e os digo em voz alta em frente ao espelho , como se eu estivesse falando para alguém que se importa , e que realmente escuta .
Talvez ninguém perceba , mas por dentro do seu sapato Manolo que você trouxe de Milão , estão alojados cinco dedos podres em estágio avançado de decomposição , que você justamente não cuidou porque ninguém vai ver por dentro do sapato .
Não me fale sobre liberdade , muito menos sobre rock , e não venha discutir comigo sobre o futuro da humanidade .
Sei que a minha vida não é minha , ela pertence a outra pessoa .

Um comentário:

  1. Nunca é tarde para tirar os sapatos e correr livre pelo mundo.

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