quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Saara

São 3 e 10 da manhã e um cheiro em particular estava incomodando meu sono . Não vinha de mim , nem das minhas cobertas , vinha da minha cabeça .
Cheiro de pêssego com cassis misturado com uma falta de interesse constante nas pessoas e nas situações . Um cheiro que me lembra casas antigas e quartos que dormi ; anos que não tenho mais e vidas que já vivi .
Mas de uma certa forma esse cheiro faz eu me sentir muito mal , uma sensação de culpa , parece que vomitei em cima dos sapatos da minha mãe que ela deixa na garagem por medo de sujarem a sala . Eu me remexo na cama tentando me focar em situações irreais para que o sono chegue cedo ou tarde , mas é inútil .
Talvez seja a cafeína , talvez o tédio , mas o mais provável é que seja esse vazio que vem me preenchendo de uma forma assustadora desde que eu voltei achando que aqui era o meu lugar , que aqui eu seria feliz , mas a verdade é que ficou tudo lá enrolado nos lençóis nunca lavados e na lavanderia intacta .
É engraçada a maneira como mascaro alguns sentimentos , encoberto algumas verdades para mim mesma para que seja mais fácil viver a vida aparentemente . E que vida chata , que regras chatas , que pessoas computadorizadamente programadas para gostar de tudo e amar a todos .
Fugindo do clichê eu acordo com os pés cansados como se eu tivesse caminhado durante 5 horas no solo quente do deserto do Saara , e o mais engraçado é que eu nem saio do lugar .

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