Acho irrelevante perguntarmos a mesma coisa repetidas
vezes em lugares diferentes.
Eu não escolhi estar aqui, e você não escolheu carregar
esse caixão de 40 mil dólares representando um corpo que não é nada mais do que
cinzas numa urna enfeitando a nossa imensa sala de jantar.
Embaixo da Torre Eiffel a pergunta era sempre a mesma;
qual a nossa missão? Por que não acordar às 5 da manhã como todo mundo? Por que
viver a vida como um comercial de perfume? E por que não?
Sinto o cheiro peculiar do jardim que chamávamos de
cemitério das flores, onde ficávamos em silêncio durante horas esperando que
começasse a chover. É assim até hoje. Esperamos a chuva que só cai quando não
nos convém.
Arrumamos as malas, vestimos outra alma e junto com ela
outros ideias que nos levam exatamente ao mesmo lugar, e as lágrimas pedem
licença para brotarem, mas são impedidas pela nossa frieza comum.
Não adianta
querer mudar, e ir contra o que já está implantado em nosso cérebro. Já fomos
contaminados pela artificialidade global. Não podemos mais ser felizes com
nada. Não é nossa culpa.
Porque não viver a vida como um comercial de perfume? A resposta já vem no texto. essa artificialidade gera uma frieza que nos distancia cronicamente da felicidade real. não há como aspirar felicidade longe da verdade. e a verdade é que a cada dia pessoas como eu e você, que simplesmente nasceram de pais excluídos, são sistematicamente injustiçados, morrem de fome e frio, são oprimidos e privados de ciência. tudo isso para que pessoas que por acaso nasceram de pais mais capazes de acumular riquezas, do que o meu e o teu, possam andar de iate e passear de jaguar.
ResponderExcluirnão existem culpados, mas existe conivência. sim, nos obrigam de todo modo a aceitar todo esse quadro com normalidade, mas isso é impossível. Sempre vai ficar um gosto amargo na boca, que só vai amenizar ao encontrarmos um modo de realmente "fazer nossa parte". que vai muito além de trabalhar honestamente e pagar impostos, isso não é fazer parte na mudança para um mundo mais verdadeiro, é simplesmente ser confortavelmente conivente com a frieza e crueldade que está sobre a mesa.
Parabéns pelo blog, Ana. e pela profundidade que nos proporciona com sua leitura!