quarta-feira, 17 de abril de 2013

Pernas



    E na incerteza do que me acontece não tenho certeza nem das sombras que são deixadas por amores passageiros ou por amigos que morreram na memória.
    Quando a circulação não circula como deveria, e o vento assovia na janela como se tentasse te dizer algo fantasmagoricamente horripilante, ou quando o copo simplesmente quebra na sua mão, ou quando você tem vontade de virar a mesa do jantar enquanto outras pessoas comem; tudo isso remete a um estado de espírito realmente depressivo que é preenchido com abraços, beijos, conversas e muita comida italiana preparada por alguém que chora muito ao cortar cebolas.
    Abro a porta do apartamento, acendo um cigarro imaginário e fumo com um uísque imaginário, enquanto discuto problemas de Estado, política e filosofo sobre vida em outros planetas com alguém que não existe fisicamente, e esse alguém realmente me preenche porque ele me entende sem fingir que entende, e compartilha dos mesmos ideais, e ele conversa comigo da forma mais sincera possível, não com o interesse de entrar no meio das minhas pernas depois.
    Você deixa tudo aí bagunçado, não organiza nada, deixa o tempo passando como a água daquele riacho ali da esquina, ninguém mais nota aquele riacho, você sabia? Nem lixo as pessoas jogam nele. Com certeza ele sente falta de alguém gritando ali por perto, poluindo suas águas ou só lavando os pés nelas.

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