quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cimento

Quando o teto gira inexplicavelmente , e o vômito de duas horas atrás está muito bem guardado em minha garganta , me viro de lado e penso nos milhares de fios de cabelos grudados na minha escova . O coração acelera e por um momento acho que vou morrer , e por um momento não me importo com a dor que assolará algumas pessoas até o fim dos tempos .

Comparações cadavéricas à parte , me contento com a programação mórbida e plastificada da televisão . Você demorou tanto tempo para aparecer que mudei os móveis de lugar várias vezes , e troquei de roupa várias vezes , as plantas da janela morreram e foram substituídas por outras .

Alguém se foi há algum tempo , e você muitas vezes pensa duas vezes antes de se levantar da cama de manhã , mas então se lembra de que precisa alimentar o cachorro , o qual não come há 1 dia , desde que você resolveu de matar mas não teve coragem .

Releio Lou Reed e penso em fumaça . Me aprofundo em cores de tecidos guardados no fundo do guarda-roupas , e que um dia vestiram um corpo que se encontra destruído . Quantas lembranças as roupas possuem , quantos traumas e quantos amores que se passaram e muitas vezes não se consumaram .

É reconfortante dizer que o destino está em nossas mãos , mas na verdade , o destino está nos nossos pés . Nossos pés que nos guiam até a padaria mais próxima e nos fazem comprar duas tortas enormes de morango para depois de termos devorado-as sentirmos culpa , e acharmos que estamos sozinhos no mundo porque somos gordos e feios . Nossos pés que vivem chutando pedras e outros pés alheios .

As horas passam rápido e ao mesmo tempo devagar demais . Pouco tempo pra muita vida que já tivera uma parte dela desperdiçada em frente à TV e andando por aí com mentirosos patológicos que não queriam nada além de olhar o que você tem no meio das pernas .

Passando cimento em cima do álbum de fotografias e caminhando lentamente . Tentando esquecer os dias de desespero em que ninguém atendia ao telefone .

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