Me pergunto se as outras pessoas também se magoam tão banalmente como eu ; porque elas não demonstram , ninguém parece se importar . Elas se ofendem e se batem , e no fim , estão se agarrando de dizendo que se amam . Queria ser assim .
Queria não guardar rancor , essa é a verdade . Queria não me sentir uma imbecil por perdoar . Mas não tenho culpa se acho que não preciso de muitos amigos .
Passadas as ofensas recípocras e gritarias histericamente perturbadoras , o que nos restava era um tipo de sexo mais vazio do que os sexos vazios , e ao mesmo tempo tão intenso que no outro dia parecia que nada havia acontecido .
Eu imaginava o que as pessoas ao nosso redor pensavam quando olhavam para nós ; figuras aparentemente tão calmas comendo seus sanduíches e conversando civilizadamente .
Isso está longe de ser uma declaração de amor , mesmo porque eu não tenho mais coragem para esse tipo de coisa , isso é só um texto da madrugada que me ajuda a passar o tempo , que como eu já escrevi por aqui , eu imagino o tempo sendo um velho magrelo e branco , usando um terno Armani preto e uma gravata listrada vermelha , com uma cartola também preta e uma bengala segurada pela mão direita . Ele está sempre sentado numa cadeira de balanço nos observando lá de alguma estrela . Ele tem um sorriso cínico no rosto , porque ele gosta de ver a gente envelhecendo e vendo todos os nossos planos feitos na infância indo embora . Para mim , ele é pior que o demônio , ou talvez ele seja o próprio .
A questão é que , no meio de milhões de fotos de épocas passadas , me coloco na posição de um padre que reza as missas de domingo , e quando ninguém está olhando ele cola o chiclete que estava mascando discretamente , embaixo da mesa no altar .
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