Os amigos que eu tive se perderam em alguma parte do tempo , ficaram por aí em alguma cidade do interior . Alguns na cidade grande . O que me resta não são as lembranças , mas sim a plena consciência de que as pessoas vão embora , e de um jeito ou de outro eu sempre vou acabar sozinha . O bom é que eu gosto da minha companhia até agora . Eu tenho essa mania de achar que o presente nunca é bom o suficiente como o passado , porque eu não acredito no futuro . O futuro não existe , somente o passado . O que eu escrevi há meio minuto atrás já virou passado .
" Você ainda é jovem , você vai encontrar alguém como você " . Eu tenho a leve sensação de que isso é uma invenção da igreja católica do século TAL , para que as pessoas vivessem suas vidas felizes na esperança de que no fim tudo iria dar certo , de que elas iriam encontrar a "alma-gêmea" . E eu ? Já me acostumei com o fato de que eu não vou encontrar a minha , me acostumei com o fato de que vivo num meio onde as pessoas pensam diferente de mim e eu tenho que fingir interesse nas conversas , porque eu ainda não evolui ao ponto de virar as costas e ir embora . Ser maldoso com alguém é um jeito prepotende de descontar nos outros suas tentativas frustradas de felicidade . Ninguém tem culpa da minha " insatisfação crônica " ( como já disse Maria Helena ) , e eu já aceitei o fato de nunca encontrar alguém com o mesmo gosto musical que eu , mesma linha de pensamento , mesmo senso de ridículo , mesma obsessão por Doctor Who . Alguém pra se sentar na mesa da cozinha , beber um café quente e fumar um cigarro em silêncio , só nós dois com os pés sob a mesa e cachecóis coloridos enrolados em nossos pescoços . Na verdade , eu sinto que já encontrei essa pessoa , mas nós passamos despercebidos porque eu estava bêbada e dando muita risada , enquanto ele me olhava de longe e deduziu que eu não era a garota que ele pensava que eu fosse .
Isso é um pensamento muito aleatório que me ocorre enquanto penso nas pessoas interessantes que eu deixei e deixo passar por mim . Talvez eu tenha dado de encontro numa das ruas de Paris com o futuro Shakespeare , ou tenha recusado que o futuro Elvis me pagasse uma cerveja em Londres .
Solte o cabelo e vá se deitar . Você não é a mesma .
Esses questionamentos estão mais do que dentro da normalidade do "vazio" dos tempos contemporâneos. Os laços hoje estão muito mais frágeis, os envolvimentos muito mais rasos e o compromisso muito mais externo. Como é mais fácil encontrar pessoas parecidas com você, é mais difícil mantê-las ao seu lado, porque as pessoas cansam logo e ao invés de tentar fortelecer os laços, preferem virar o rosto, apontar o dedo para um menu de pessoas (seja via Internet, baladas, Orkuts, Facebooks e afins) escolher uma outra que lhe interesse mais e recomeçar.
ResponderExcluirAqueles que acreditam nos laços eternos, na profundidade das amizades, na busca pelo sublime e eterno, na família e nas coisas que são importantes (aqui entra o guia do Pequeno Príncipe e todos aqueles valores bonitos do Exupèry) e afins ficam relegados a criação de reclamações constantes da fata de abraços, de carinhos e de programas imbecis pra se alimentar o presente.
É triste, mas vivemos em tempos onde se compram amigos, se compram coisas e se enjoam de ambas as coisas - coisas e amigos.
Mas o que vale a pena é a gente gostar da nossa companhia mesmo, sermos solidão na multidão e sabermos que uma hora alguém vem pra conversar com a gente e saber como REALMENTE estamos (e não a pergunta educada "E ai, td bem?" que vem no MSN ou no começo de um email pedindo roupas emprestadas).
No final, o que vale é que estamos na resistência, somos poucos no meio deu ma multidão de vazios. Pelo menos alguns se encontram e trocam laços mais profundos, mais do que as suas cicatrizes desenvolvidas por relacionamentos vazios - todos Edwards Mão-de-tesoura malucos que se cortavam porque não sabiam manusear suas navalhas.
Bom, é isso... e não acredite que isso é culpa da igreja católica, o encontrar alguém é bem mais filosófico que isso, é culpa da natureza do ser humano que sonha e corre atrás do sublime, vai atrás do céu mais azul, esses Fernão Pero Gaivotas platônicos.
Beijo.
adoro seus textos, mas nunca sei o que comentar. desculpe. beeijos, Jaque.
ResponderExcluirO jeito que você escreve é muito peculiar. Nunca vi ninguém ser tão bem definido em si que ninguém que é de fora consegue entender.
ResponderExcluirAdorei.
cachecol colorido é muito gay!
ResponderExcluirse pah o sonho de uma pessoa pra tomar um café e cigarro é utopia mas eu acredito ainda. E a parte de que não precisa que fale nada tmbm.