sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Recepcionista

É uma agulha esquecida no meio de milhões de alfinetes ; você sabe que está lá mas nunca consegue encontrar .
É a alma do lenhador que morreu queimado na cabana que você passou suas férias de verão em 1997 ; você sabe que ela vaga por ali mas nunca conseguiu vê-la .
Não digo que seja fácil conviver com essa culpa diária de não produzir nada essencial para contribuir de algum modo com mentes cansadas que não varrem mais a poeira para debaixo do tapete , mas sim , alimentam-se da sujeira e misturam-a no suco de laranja artificial esquecido na geladeira há décadas .
Não é como se nós não nos importássemos , na verdade nós somos uma geração de roupas extravagantes e poder de persuasão compatível com o grunhido de um gato que pretende atacar um pássaro maior que ele .
Não é nossa culpa se nascemos na família que nascemos ; não é nossa culpa se alimentamos nosso cachorro com pão transbordando Nutella .
Tenho reparado que 1 hora demora mais para passar do que 1 ano , as folhas do meu calendário estão se acabando , e eu ainda não levei as roupas do ano passado numa lavanderia .
Esse seu apartamento comprado com dinheiro vermelho e empoeirado de branco , não passa de um lugar onde eu posso encontrar meus demônios e dormir em paz com eles . Não passa de um hotel barato com um recepcionista cego de um olho mas que não deixa de notar que eu mudei a cor do meu cabelo .

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